Caro Sr. Diretor, venho por meio desta explicar com mais detalhes a razão de haver descrito a causa de meu acidente como, "FAZER TODO TRABALHO SOZINHO".
No dia dezessete do mês de setembro, eu e meus companheiros dirigimo-nos a Empresa de Prestação de Serviços Fenix, onde iríamos instalar um de nossos novos computadores. Como parte do contrato, caberia a nós retirar o antigo computador (muito antigo) e colocar o novo no lugar.
O antigo computador, por ser volumoso, não poderia ser retirado pelo elevador e tão pouco pelas escadas. Resolvemos então baixá-lo pelo lado de fora do prédio, através de um sistema de cordas e roldanas. Depois de preparar as cordas, as roldanas e encaixotar o computador, percebemos que, devido ao horário, só poderíamos executar o serviço no dia seguinte.
Todos recolheram-se para as suas casas para o merecido descanso.
Na manhã seguinte lá estava eu, bem cedo, esperando os meus companheiros para terminar o serviço.
Sendo eu um homem forte e pesado, mais de 100 quilos (vide campo 24 do formulário), pensei comigo: qual não seria a surpresa de meus amigos quando chegassem, se vissem a caixa com o computador já no chão. Não posso negar que pensei na possibilidade de impressionar os demais.
Subi até a sala onde estava o computador, no décimo andar, amarrei firmemente a corda em volta da caixa com o computador, passei-a pela roldana e desci ao térreo. Segurando com força, comecei a puxar a corda.
Qual não foi meu espanto ao ver-me subindo vertiginosamente junto ao edifício. Na minha cega vontade de aparecer, não me ocorrera verificar o peso da caixa. Acabei por descobrir, da pior maneira possível, que ela pesava mais de 100 kg. A minha rápida subida só teve sua velocidade diminuída nas proximidades do quinto andar, local em que encontrei a caixa que descia com igual velocidade. Isto explica duas costelas quebradas e o deslocamento da clavícula. Felizmente, mantive a presença de espírito e não soltei a corda. Minha subida teve fim apenas quando enterrei os dedos, até a segunda junta, na roldana, enquanto que, ao mesmo tempo, a caixa chegava ao chão com grande estrondo. Felizmente, ainda lúcido, não soltei a corda.
Com o choque, o fundo da caixa se soltou, liberando assim o computador. Ora, sem o computador a caixa ficou leve (apenas madeira), sendo assim, nada mais me restou senão começar a descer em grande velocidade. Novamente me encontrei com a caixa no quinto andar, isto explica os dois joelhos quebrados e a bacia trincada.
Meu já sofrido corpo só teve cessado todo o movimento quando caiu em cima do computador que esperava lá embaixo. Isto explica o traumatismo craniano, mais três costelas quebradas e o deslocamento da coluna. Ali deitado, com dores insuportáveis, perdi minha presença de espírito e soltei a corda. A caixa sendo mais pesada que a corda desceu rapidamente, encontrando-me deitado sobre o computador. Isso explica a fratura de mais três costelas, do nariz, do maxilar, do fêmur, da tíbia direita e a perfuração do pulmão.
Tudo isso aconteceu em pouco mais de 30 segundos.
Espero que, através deste relato, o Sr. Diretor tenha entendido o que quis dizer com "FAZER TODO O TRABALHO SOZINHO".
Ass.: Sofrenildo Jr.